Benefícios flexíveis impulsionam mercado de trabalho no Brasil

 Busca por “cartão mobilidade” cresce 110% em um ano, refletindo expansão dos benefícios flexíveis e novas formas de gestão de pessoas nas empresas

 

Créditos: RgStudio/iStock

 

A adoção de benefícios flexíveis tem se intensificado no Brasil, com destaque para o vaivém da procura por soluções de mobilidade corporativa. Segundo levantamento feito pela agência de SEO Conversion, baseado em dados da ferramenta Ahrefs de setembro de 2024 a setembro de 2025, as buscas pelo termo “cartão mobilidade” cresceram cerca de 110% no Google Brasil. No mesmo período, o interesse por “benefícios flexíveis” subiu em torno de 22%, reflexo de uma mudança no mindset do trabalhador e na estratégia de recursos humanos (RH) das empresas.

O movimento não é isolado. Fontes especializadas em gestão de pessoas no país apontam que esse tipo de benefício ganhou centralidade para atrair e reter talentos em um mercado cada vez mais competitivo e orientado pela personalização das condições de trabalho.

O que é cartão mobilidade?

O cartão mobilidade funciona como uma versão atualizada do tradicional vale-transporte, enquadrado dentro de um pacote de benefícios flexíveis. Ao invés de limitar o usuário exclusivamente ao transporte público, ele permite que o colaborador utilize o saldo para diferentes modalidades, como combustível, táxi, aplicativos de transporte, estacionamento e até aluguel de bicicletas.

Diferentemente do vale-transporte, que é obrigatório para colaboradores que solicitam o benefício, o cartão mobilidade é opcional e negociado entre empresa e colaborador. Essa autonomia demonstra um avanço nos modelos de benefícios corporativos.

Como funcionam os benefícios flexíveis?

Os benefícios flexíveis consistem em oferecer ao colaborador um valor ou crédito que pode ser usado em diferentes categorias de gastos: mobilidade, alimentação, educação, saúde, entre outras. Esse modelo substitui pacotes rígidos e padronizados por opções mais personalizadas e alinhadas às preferências individuais de cada colaborador.

Entre os principais ganhos para as empresas, estão:

     maior atração e retenção de talentos, especialmente das gerações mais jovens, que valorizam autonomia e personalização;

     redução de custos administrativos, já que os benefícios podem ser geridos por plataformas digitais e consolidados em um cartão multibenefício;

     fortalecimento da cultura organizacional e da imagem da empresa como moderna e adaptada.

Assim, as tendências indicam que as organizações que não adaptem seus pacotes de benefícios podem perder competitividade no recrutamento e no engajamento de equipes.

Vantagens do cartão mobilidade para empresas

A adoção do cartão mobilidade representa uma convergência entre mobilidade urbana, tecnologia e gestão de pessoas. Para as empresas, os benefícios são:

     melhora da experiência do colaborador no deslocamento, o que pode reduzir atrasos e absenteísmo;

     facilidade para o RH na gestão e no controle dos benefícios, com menos processos manuais;

     diferenciação de pacote de benefícios, que pode se traduzir em vantagem competitiva na atração de profissionais;

     alinhamento com demandas modernas por flexibilidade e mobilidade sustentável, algo cada vez mais valorizado pela força de trabalho.

Para empresas que já oferecem vale-transporte tradicional, a transição para o cartão mobilidade pode significar a atualização de boa parte da estrutura de benefícios. Entretanto, é importante que a política interna seja clara em relação ao uso do benefício, para garantir conformidade legal.

Benefícios flexíveis para funcionários

Para os colaboradores, os benefícios flexíveis – em particular, o cartão mobilidade – significam maior autonomia sobre o uso, o que pode gerar maior satisfação e sensação de valorização. Segundo o Anuário de Benefícios Corporativos, Boas Práticas e Tendências para os Recursos Humanos (Planeta Firma), realizado pela Swile Brasil, com a Leme Consultoria, a adesão a benefícios flexíveis saltou de 26,2% para 39,3% em pouco mais de três anos, nomeando a personalização como fator-chave para escolha de emprego.

Além disso, para quem reside em áreas com alternativas variadas de transporte ou prefere utilizar transporte próprio/app, o benefício traduz-se em liberdade para decidir como se deslocar, sem depender exclusivamente das regras do transporte público. Esse tipo de flexibilidade também costuma impactar no equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Tendências de RH em benefícios corporativos

O modelo de benefícios corporativos está passando por uma reconfiguração. De acordo com o Panorama de Gestão de Pessoas, da Sólides, as empresas devem priorizar pacotes que ofereçam variabilidade, personalização e digitalização nos próximos anos. A lista de tendências inclui justamente os benefícios flexíveis, sendo identificada como uma das prioridades para 2025.

Entre os movimentos esperados, estão a integração de benefícios com plataformas digitais, maior foco em mobilidade e bem-estar, customização conforme o perfil dos colaboradores (como geração Z ou híbridos) e adoção de soluções que unifiquem diversos tipos de benefícios em um único cartão ou aplicativo.

Legislação sobre benefícios flexíveis no Brasil

Apesar de a inovação em benefícios avançar, é fundamental saber que o vale-transporte continua sendo regulado pela CLT e pela Lei 7.418/1985. O substituto ou complemento cartão mobilidade integra os benefícios flexíveis, mas ainda depende de acordo entre empresa e colaborador, pois não é obrigatório por lei.

As empresas interessadas em adotar o cartão mobilidade devem observar:

     formalização por escrito do novo benefício, caso substitua o vale-transporte;

     definição clara de categorias de uso, para evitar descaracterização do benefício;

     transparência sobre as condições e os direitos do colaborador em relação ao vale-transporte e ao auxílio-mobilidade;

     possível negociação, por meio de acordos ou convenções coletivas, conforme o setor

Como implementar benefícios flexíveis na empresa

Para empresas que desejam adotar o modelo flexível e oferecer o cartão mobilidade, é necessário seguir alguns passos para que a implementação seja feita de forma organizada e integral.

     Realizar pesquisa interna com colaboradores para mapear as modalidades de transporte e mobilidade que mais utilizam.

     Avaliar o orçamento de benefícios existente e definir se parte será alocada ao cartão mobilidade ou outro multibenefício.

     Escolher plataforma ou provedor que permita flexibilidade, controle de uso e integração ao RH.

     Atualizar a política de benefícios da empresa e comunicar claramente todos os colaboradores sobre a nova modalidade.

     Monitorar indicadores como adesão, satisfação do colaborador e impacto sobre mobilidade urbana e taxas de atraso.

Quando implementado de forma estratégica, o benefício se torna parte essencial de um pacote de benefícios flexíveis que responde às dinâmicas modernas do trabalho e às expectativas das equipes.

Dessa forma, o aumento da busca por benefícios flexíveis, com expressiva elevação nas consultas pelo cartão mobilidade, revela uma mudança na gestão de pessoas. Autonomia, mobilidade, personalização e bem-estar passaram a ser tão importantes quanto salário e benefícios tradicionais.

Para empresas e profissionais, a adoção desse formato representa não apenas um benefício, mas um passo estratégico para o futuro do trabalho.

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