*Por Lucas Schmitz, Arquiteto de Segurança da Informação da Service IT
Saber exatamente o que existe em seu ambiente é o primeiro, e talvez o mais importante, passo de qualquer programa de segurança da informação, pois não é possível proteger aquilo que não conhecemos. Ainda assim, é muito comum que empresas sigam tentando gerenciar riscos, aplicar correções ou responder a incidentes sem um inventário de ativos confiável e atualizado. A visibilidade é a base de tudo e, quando ela falha, todo o restante também está comprometido.
Como destacam frameworks reconhecidos como o CIS Controls, o NIST Cybersecurity Framework e a norma ISO/IEC 27001, o inventário de ativos é um componente essencial na construção de um programa robusto de segurança cibernética. Apesar de parecer um tema básico, o inventário de ativos é o alicerce sobre o qual se constrói todo o restante da segurança cibernética. Como citado, normas e frameworks amplamente adotados pelo mercado não deixam dúvida quanto a isso.
O CIS Controls, por exemplo, traz logo nos dois primeiros controles justamente a identificação e o controle de ativos de hardware e software. Já o NIST Cybersecurity Framework nos apresenta a função identify, que é a base de todo o modelo. Dentro dela, a categoria Asset Management trata da identificação de ativos físicos e lógicos de forma precisa e contínua. A norma ISO/IEC 27001 também traz o controle A.5.9, que estabelece que todos os ativos relevantes para a segurança da informação devem ser identificados e registrados em um inventário apropriado.
Abordagens mais recentes, como o modelo CTEM (Continuous Threat Exposure Management), proposto pelo Gartner, também reforçam essa necessidade da visibilidade. O primeiro estágio da solução é justamente a definição do escopo, algo que depende diretamente de um inventário de ativos preciso, abrangente e constantemente atualizado. A lógica é simples: sem saber o que está presente na rede, como garantir que ela esteja segura?
É preciso ir além de saber quantos ativos existem no seu ambiente, é essencial saber quais são, onde estão, quem usa e qual a importância deles para o negócio. Só assim é possível tomar decisões baseadas em risco e priorizar ações com eficiência.
Desafios comuns na criação de um inventário
Na prática, a equipe encarregada de montar um inventário de ativos confiável costuma esbarrar em alguns desafios recorrentes. Em ambientes híbridos e dinâmicos, é comum que as informações estejam fragmentadas entre planilhas e ferramentas que não se integram entre si. Tudo isso resulta em dados duplicados, inconsistentes ou simplesmente ausentes. Outro desafio recorrente é a ausência de critérios claros para definir o que realmente importa. Sem uma visão orientada a risco, muitos ativos relevantes acabam ficando fora do radar, enquanto recursos de baixo impacto são monitorados com o mesmo peso.
O primeiro passo, então, é buscar fontes confiáveis de informação, como Active Directory, DHCP, ferramentas de endpoint e CMDBs (Configuration Management Database). O ideal é cruzar essas informações e automatizar o máximo possível. Um inventário mantido em planilhas Excel dificilmente se sustenta a longo prazo.
Outro ponto chave é classificar os ativos de forma inteligente, pois nem tudo tem o mesmo nível de criticidade. Entender a função do ativo, sua exposição, quem o utiliza e qual o impacto em caso de falha ou ataque ajuda a direcionar os próximos passos da segurança. Por fim, é fundamental estabelecer uma rotina clara de governança. Quem é o responsável pelo inventário? Com que frequência ele é atualizado e revisado? Quais critérios e processos regem a entrada e saída de ativos?
A tecnologia certa pode transformar completamente a forma como o inventário de ativos é conduzido. Em vez de uma lista estática e desatualizada, é possível adotar uma abordagem dinâmica, automatizada e enriquecida com contexto. Ferramentas mais modernas já permitem identificar ativos em tempo real, independentemente de onde estejam, seja em ambientes on-premise, nuvem, containers ou estações remotas. Além disso, vão além do básico, cruzando informações de hardware, software, exposição à internet, ciclo de vida, obsolescência e até o papel do ativo no ambiente. Isso permite que a priorização de riscos seja feita com base em dados reais, e não em suposições.
Outro diferencial dessas soluções é a capacidade de integração com fontes já existentes, como CMDBs, diretórios e ferramentas de inventário legadas, promovendo um ecossistema mais coeso e confiável. Com essa base sólida, a gestão de vulnerabilidades, correções e até a resposta a incidentes se torna muito mais eficiente.
Inventariar os ativos da organização não é apenas um requisito técnico, é uma necessidade estratégica. É a partir dessa base que todo o resto ganha contexto: vulnerabilidades, riscos, controles, respostas e planos de continuidade. Sem um inventário confiável, qualquer ação de segurança vira um tiro no escuro.
Mais do que saber "quantos" ativos existem, o desafio é entender quais realmente importam, como estão expostos e o que podemos fazer para protegê-los devidamente. Com o apoio da tecnologia certa, esse processo pode deixar de ser manual, demorado e falho, passando a ser inteligente, integrado e útil de verdade.